Aprendi com um sábio que há duas formas de morrer por uma verdade: por tê-la seguido; ou por tê-la contrariado.
2 de ago. de 2014
1 de ago. de 2014
Amor e condição
Se você só ama os que "dão certo", perderá os que "dão certo" porque são amados.
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30 de jul. de 2014
A propósito da postagem anterior...
A propósito da postagem anterior, só agora me chegou ao conhecimento essa carta de Nietzsche a Mathilde Maier, da qual passo a transcrever um pequeno trecho:
(...) Se a senhorita pudesse sentir como eu em que ar puro dos cumes eu vivo agora, em que doce disposição ante os seres que ainda habitam na bruma dos vales, mais do que nunca decidido a tudo que é bom e de valor, cem passos mais próximo dos gregos do que eu era antes; e o quanto eu mesmo agora vivo aspirando à sabedoria nas menores coisas, ao passo que antigamente me contentava com venerar e idolatrar sábios -- em suma, se a senhorita chegar a experimentar como eu esta transformação e esta crise, oh, então a senhorita deveria desejar viver algo semelhante!
(...)
Nietzsche a Mathilde Maier, 15 de julho de 1878. Apud D'Iorio, Paolo. "Nietzsche na Itália: a viagem que mudou os rumos da filosofia. Tradução de Joana Angélica d'Avila Melo. -- 1.ed. -- Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
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Meu livro de aforismos
Estou tentando finalizar o meu livro de aforismos, cujo título é "A discussão suprema das coisas pequenas". Ocorre que meu senso crítico não me permite e me manda recomeçá-lo. Pior ainda: manda nunca publicá-lo.
14 de jun. de 2014
Nelson Rodrigues, o futebol e a pornografia
O trecho abaixo foi extraído da crônica "O Pelé branco":
O futebol jamais foi mudo, jamais exigiu do craque um silêncio de sarcófago. Direi mais, se me permitem: -- o futebol é o mais falado e o mais pornográfico dos esportes. Durante os noventa minutos, tanto os craques em campo como o torcedor nas arquibancadas rugem os palavrões mais resplandecentes do idioma. Dir-se-ia que tanto o público como o craque têm, no berro pornográfico, um estímulo vital, precioso e irresistível. E se o meu personagem xinga os adversários, não faz outra coisa senão insistir num hábito que data dos nautas camonianos. Repito: -- o futebol se nutre de pornografia como uma planta de luz.
Rodrigues, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 74.
15 de nov. de 2013
"De olhos bem fechados" -- O dilema das aparências (I)
O texto abaixo conta detalhes do filme.
No início desta semana, Luiz Felipe Pondé resolveu falar sobre "Eyes Wide Shut" ("De olhos bem fechados"), filme de Stanley Kubrick ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/138366-kubrick-de-olhos-bem-abertos.shtml ). Segundo Pondé, EWS é um filme sobre o desejo e sobre a sua perturbação na "vida ordenada".
Contardo Calligaris, na estreia do filme (em 1999), também deu a sua interpretação. Para Calligaris, "o filme de Kubrick é um filme sobre sexo." ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq02099915.htm )
Tenho uma interpretação diferente (mas não excludente) das duas mencionadas. Para mim, EWS é um filme sobre o dilema das aparências.
Concordo com Calligaris: a melhor tradução para "Eyes Wide Shut" é "De olhos arregaladamente fechados". Acho essa tradução muito boa porque, além de ser um poético oximoro (olhos arregalados e fechados), ela é a que mais se aproxima do excelente título original e a que melhor desnuda o conflito que mencionei. Explico.
O que chamo "dilema das aparências" é a dificuldade de quem, por comodidade, conveniência, covardia, hipocrisia, etc, goza e sofre uma vida inautêntica. É o conflito de quem obtém os proveitos da fachada, mas não suporta seu ônus. É a insurgência daquilo que em cada um de nós não tolera um mundo onde as aparências têm a impossível missão de traduzir toda a subjetividade. Onde as máscaras não devem ser somente parte do que somos, mas tudo o que somos. Onde os olhos, embora abertos, devem estar fechados para aqueles desejos perturbadores.
Em EWS, o médico Bill (Tom Cruise), a sua esposa Alice (Nicole Kidman) e outros personagens vivem esse dilema. Eles estão entediados com as máscaras – isto é, com as concessões e renúncias que fizeram em nome do casamento, da família, da sociedade –, mas parecem temer os desejos. Fecham os olhos para poder desejar (através de sonhos e fantasias) e abrem para poder reprimir e ignorar o que desejam.
Mas não se trata só de Bill, Alice e de outros personagens. O espectador também pode estar “cego”. Se não, me responda: quantos bailes de máscaras há em EWS? Se vc respondeu “um”, é porque manteve os olhos bem fechados para aquela confraternização natalina (há festa mais “familia"?), onde Bill depara-se com sua mulher flertando, com seu próprio desejo de trair e com a quase overdose de uma prostituta, que, no banheiro, fazia sexo com o dono da festa (ele me pareceu tão bem casado!).
Contudo, quem não viu as máscaras caírem naquela confraternização, não passa distraído quando Alice, para desfazer a imagem de esposa fiel, revela ao marido o desejo intenso que teve (e tem) por um Almirante que ela vira uma vez na vida.
Aqui, um parêntese: obviamente não é fácil para Bill admitir que a sua mulher (aquela mulher!) deseja outro homem. Nesse caso, não seria melhor manter os olhos fechados? Não seria mais são guardar a imagem idealizada da mulher com quem ele constituiu uma bela família?
Pode ser. Mas, se não for, ou seja, se a escolha for encarar o desejo de Alice, Bill precisará abrir os olhos para os seus próprios desejos e compreender como eles também perturbam a sua aparência de bom cidadão, bom médico, bom amigo, bom pai, bom marido (?). Até porque uma boa forma de perdoar é reconhecer-se ao alcance do mesmo erro, do mesmo pecado, da mesma queda. Fecha parêntese.
Depois que Alice revela seus desejos, Bill recebe um telefonema que o informa sobre a morte de um paciente e sai para consolar Marion Nathanson (Marie Richardson), a filha do falecido. Prestes a casar, Marion, no quarto onde seu pai está sendo velado, beija Bill e confessa que o ama. É outra máscara que cai. É outro cenário improvável para o que ali se passa. É mais um desejo que não se suporta.
Bill deixa o apartamento de Marion, perambula e encontra um grupo de jovens que o chama de "bicha" (será?). Seguindo sua caminhada, Bill -- depois de passar por um experiencia sem sexo com uma prostituta -- entra no Sonata Jazz, bar onde toca Nick Nightingale (Todd Field), seu colega na faculdade de Medicina que abandonou o curso para ser músico.
Nightingale (atentemos para a simbologia do "rouxinol"), sendo aquele que desafiou a convenção "uma vez médico, sempre médico", oferece a Bill a senha para que ele possa acessar uma experiência extraordinária e transformadora -- uma festa de mascarados, um baile de fantasias, uma sociedade secreta, que seja. O que importa, por ora, é que para ir à festa é preciso coragem, fantasia, senha. E a senha não poderia ser mais simbólica: fidelio.
A análise segue na próxima semana.
13 de out. de 2013
Um detalhe na biografia de Maquiavel
Segundo Maurizio Viroli*, não era muito raro que Maquiavel se apaixonasse. Uma dessas paixões foi Lucrécia, chamada "Riccia", que foi sua amante por pelo menos dez anos. Conta o biógrafo que Riccia, "uma mulher fascinante", continuou sendo amante de Maquiavel mesmo depois dele estar desempregado e sem dinheiro. Em razão disso, um amigo do florentino confessa-se admirado com o comportamento da amante e assim justifica: "na maioria das vezes, as mulheres costumam amar a sorte e não os homens, e quando essa se modifica, elas mudam ainda mais rapidamente".
Viroli relata que Maquiavel e Riccia viveram "uma aventura um tanto escabrosa (....) a qual foi omitida convenientemente por seus biógrafos:
"Trata-se de uma acusação anônima de sodomia apresentada aos Oito da Guarda, magistratura encarregada da justiça criminal, em 27 de maio de 1510. Cito o texto da acusação: 'Notifica-se a Vós, Senhores Oito, como Nicolau de Messer Bernardo Machiavelli fodeu Lucrécia, dita a Riccia, no cu. Interrogai-a e descobrireis a verdade.'"
Diz Viroli que naquela época a sodomia era um delito que poderia ser punido com "multas, humilhações públicas e encarceramento e que, até 1502, existia um órgão especial, os "Oficiais de notas e conservadores dos mosteiros", "encarregado da repressão dos assim chamados atos sexuais contra a natureza".
"Na prática o ato era tolerado, e a denúncia não deu em nada", informa o biógrafo.
* Viroli, Maurizio. O Sorriso de Nicolau: história de Maquiavel. Tradução de Valéria Pereira da Silva. São Paulo: Estação Liberdade, 2002, p. 193.
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