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15 de jun. de 2015

Notas sobre a pós-velhice




Fiquei olhando aqueles velhos e pensando que talvez nenhum deles soubesse o que vem depois da velhice. Eu também já fui velho há alguns anos e sei-o bem: o que se segue à velhice é mesmo a fase mais misteriosa da vida. É nela em que me encontro e nela ficaria para sempre se não fosse a providencial necessidade de acabar com tudo. A propósito, a ideia de uma eternidade negativa -- de um "para sempre" que é nada -- é somente inteligível na pós-velhice, chamemos assim. Ah, vocês não sabem como são as horas nesta fase da vida! Agora as horas já não marcam um intervalo no tempo. Agora elas são já a própria eternidade tediosa, ociosa, murcha: a eternidade positiva, que faz compreender e às vezes ansiar pelo seu oposto. Se vocês aos menos vissem como as horas param na pós-velhice. Se vocês notassem como o relógio nos prepara para o porvir. Mas não há sensibilidade para tanto noutra idade. Não por acaso ouço aqueles velhos chamando de "despeitadas" as horas. Um dia, talvez, lhes será dada a oportunidade de sentir o tempo parando, tornando-os eternos aos poucos. Então talvez eles sejam gratos ao presente ou, ao contrário, nostálgicos do tempo em que as horas corriam. Mas talvez eles ainda sejam velhos ou novos ou nunca serão propriamente pós-anciãos. Neste caso, serão como tanta gente que nunca aprendeu a ser temporalmente eterna. Olhem aqueles velhos...


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